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portância do que tentava explicar fosse evid-
ente demais para ser esclarecida.
E esses futuros jornalistas, advogados, es-
critores, donas de casa, como poderão utiliz-
ar, a seu favor, a teoria de Laplace, o teorema
de Hardy-Weinberg ou a ondulatória? Em
que momento, um engenheiro, físico ou
torneiro-mecânico precisará diferenciar a lit-
eratura barroca do rococó? Ou ainda a enfer-
meira, como fará para viver sem ter con-
sagrado o tempo que devia ao estudo da
queda do Império Romano ou às particular-
idades do sistema feudal?
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O leitor sempre poderá argumentar que
todos esses conhecimentos são importantes
para que se entenda o mundo em que vive-
mos e, portanto, para que nele possamos
viver melhor.
Mas para Epicuro, deveríamos ir, di-
gamos, mais diretamente, ao que nos
acontece no mundo. Porque toda sabedoria
deve se adequar à vida, à ética, e não o con-
trário. Afinal, pensamos para viver melhor,
diz Epicuro. E não vivemos para pensar mel-
hor, sugestão intelectualista socrática, ap-
resentada por Platão e, em muitas épocas,
dominante.
Epicuro denuncia essa inversão, con-
sagrada por muitos. Defende, a tese con-
trária. Pensar, filosofar, é importante. Mas
exclusivamente como meio para a vida. Para
uma vida melhor. Porque permite viver mel-
hor. E a vida feliz é o fim. O bem soberano.
Aquilo que devemos e podemos alcançar. E
que não pode ser meio para nada. Porque já
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é o máximo. Por isso, o estudo da filosofia
moral, da felicidade, deve ser objeto prior-
itário da educação de qualquer um, a
qualquer tempo. Independente de sua idade
ou condição material.
Prazer e morte
Nessa busca pela felicidade na vida, o
maior bem que podemos alcançar, muitos
são os obstáculos. Para Epicuro, a felicidade
é alcançável, mas não facilmente. Longe
disso. Os idosos, por exemplo, esbarram em
angústias que perturbam a tranquilidade de
suas almas. Logo, comprometem seu bem-
estar. A principal delas é a perspectiva da
morte. O sofrimento que, acreditamos, possa
ensejar a sua chegada. De novo, a preocu-
pação será sempre atual. Afinal, não eram
apenas os antigos que viam na finitude um
temor a enfrentar.
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Mas essa finitude inexorável também nos
leva a refletir sobre a vida que resta. Obe-
decendo sempre à lógica do escoamento. Da
ampulheta. Vamos morrer, mas ainda há
vida por viver. Cabe-nos viver o tempo que
resta da melhor maneira possível. Fôssemos
eternos seria diferente. Mas, como não
somos...
Na hora de cogitar sobre como gastar o
tempo que resta, damo-nos conta de nossa
pouca autonomia. Você dirá que deveria ser
diferente. Mas não é. Como somos sociais 
antes mesmo que você comece a esboçar al-
guma ideia sobre como viver  sua reflexão é
atropelada por um turbilhão de propostas.
Manifestações interessadas na sua adesão.
Aparentemente pertinentes. Chanceladas por
porta-vozes ou instituições legítimas, acima
de qualquer suspeita.
Assim, dietas curtas e outras interminá-
veis; exercícios físicos para desocupados e
para os que não têm tempo; remédios e
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cosméticos sempre de última geração, com a
garantia de uma vida mais longa e saudável.
Condomínios fechados, verdadeiros eldora-
dos intramuros; a indústria da segurança
privada, que não para de crescer, garante
sobrevida, ante as agressões de homens
tristes; novas seitas prometem melhores
condições existenciais, respeitados os proto-
colos divinos, apresentados por privilegiados
mediadores; instituições financeiras asse-
guram um futuro mais confortável; partidos
políticos prometem investimentos públicos
em saúde e segurança, reduzindo a probabil-
idade de um contratempo; receitas para vi-
das felizes, de sucesso, eficazes, de líderes,
são apresentadas por gurus, ungidos em
outro hemisfério; testemunhos de vidas
bem-sucedidas, mesmo em condições adver-
sas, são exibidos diariamente na televisão
pelos que souberam viver a vida. Todos esses
discursos fazem crer na boa gestão do tempo
que falta. E vão, pouco a pouco, tornando-se
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referência para nós. Convertendo-se em ób-
vias, evidentes e naturais.
Mas, apesar de todas essas sugestões para
melhor distrair a existência, são muitas as
ocasiões que nos relembram de nossa con-
dição. Finita. Temporária. Daí toda nossa
aflição. Nosso medo da morte. Que nos leva a
invocar os deuses e outras entidades sobren-
aturais. A atribuir-lhes a responsabilidade
pelo nosso maior temor.
Os deuses existem de fato e o conheci-
mento que deles se tem é evidente.
Eles, porém, não são como a maioria os
crê, pois não continuam coerentemente a
considerá-los como os concebem. Ímpio
não é quem nega os deuses como a maior- [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]

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